por que criar com limite funciona (e muito) #37
A gente costuma imaginar a liberdade criativa como um campo aberto, onde tudo é possível, tudo é permitido.
Como se tudo funcionasse melhor quando temos orçamento ilimitado, tempo de sobra e nenhuma regra.
Mas essa imagem… é uma cilada.
Porque, na real, quando tudo pode, nada se destaca. E a ausência de limites, muitas vezes, não liberta: pelo contrário, paralisa.
Sabe aquela sensação de abrir a Netflix e passar 40 minutos só escolhendo o que ver? Ou entrar numa cafeteria e ficar perdida no cardápio com 18 tipos de café? Pois é. Isso tem nome: paralisia por excesso de opções. (Paralysis by analysis, pros íntimos.)
E adivinha? Na criatividade é igual.
O mundo não para de jogar coisa na nossa cara: referência, inspiração, trend, ideia, mais ideia… até que, de tanto olhar pra tudo, a gente não faz nada.
E é aí que entram os limites. Aqueles que, num primeiro momento, parecem chatos, restritivos. Mas que, na prática, são a coisa mais libertadora que existe.
Quando falamos de usar limitação como linguagem, é sobre isso. É olhar pro que você tem hoje - um único material, um objeto, um espaço pequeno, uma ideia que cabe em poucos segundos e perguntar: "Tá, e o que dá pra fazer com isso?"
Porque, muitas vezes, o que trava não é falta de opção. É opção demais.
Criar com menos não é criar pior. É criar com foco. Com intenção. É como desenhar com uma única cor. Tocar uma música com três acordes. Escrever um haicai. Parece pouco (e é!).
Mas é justamente aí que mora a mágica.
E, se quiser experimentar isso na prática, te deixo um desafio:
Escolhe um único objeto. Pode ser qualquer coisa: um clips, um fósforo, uma colher, uma fita.
Conta uma micro-história com ele. Vale vídeo, vale sequência de fotos, vale desenho, vale texto. O único combinado é que tudo gira em torno desse único elemento.
Você vai se surpreender com quantos caminhos aparecem… justamente porque você escolheu parar de olhar pra todos.
Às vezes, o que a gente precisa não é de mais liberdade.
É de um bom limite.
Muito além da xepa
→ esse espaço é pra compartilhar coisas incríveis que me inspiraram e que, com certeza, vão te inspirar também.
Um dos exemplos mais bonitos que eu já vi sobre como a limitação pode virar linguagem é o curta “The Kite”, do cineasta eslovaco Martin Smatana.
Não vou estragar a experiência com spoilers, mas o que me deixou apaixonada foi ver como o próprio material usado na animação faz parte da narrativa.
O curta é todo feito com tecidos e conforme os personagens envelhecem, eles vão afinando, perdendo camadas. É incrível!
Se você ainda não viu, fica aqui meu convite carinhoso: assiste esse curta aqui.
Um beijo e até a próxima feira!
Carol da Maria Marcolina