Semana passada, descobri que minha terapeuta nunca tinha visto Soul, da Pixar. Confesso que fiquei um pouco chocada (só um pouco).
Indiquei na hora e, claro, passamos parte da sessão dessa semana falando sobre como o filme é genial — e sobre como a Pixar tem esse dom de contar histórias que parecem simples, mas pegam lá no fundo.
Isso me lembrou de um documentário que assisti faz tempo: Por Dentro da Pixar.
Em um dos episódios, o Dan Scanlon, diretor de Dois Irmãos, conta um exercício que fez pra encontrar a ideia do filme. E eu fiquei assim: 🤯
Ele queria muito fazer um filme que falasse sobre algo íntimo. E, pra criar uma ideia com verdade, ele sabia que precisaria ser vulnerável.
Então colou na parede vários post-its com palavras que o definem: irmão, marido, artista… E depois escreveu o que o assustava sobre cada um desses papéis.
Antes de ir embora, alguém perguntou: “Quer que a gente cubra isso aqui pra ninguém ver?”.
Ele disse que não precisava, mas, instintivamente, virou dois post-its. Pensou: “Esses eu não quero que ninguém veja".
Foi aí que entendeu: é aqui que tá o meu filme.
Aquilo que ele tentou esconder era justamente o que tinha mais potência. O que mais doía era também o que mais dizia sobre ele.
Desde que ouvi isso, nunca mais parei de pensar: talvez as melhores ideias estejam escondidas nos lugares que a gente evita, naquele pedaço da história que você vive tentando varrer pra debaixo do tapete.
Criar é, muitas vezes, um ato de exposição.
Não é mostrar o que a gente sabe, ter um monte de referências e técnica. É ter coragem de mostrar o que a gente sente. É ir lá onde dói, onde tem a bagunça que você quer esconder… e transformar isso em história.
A gente vive num mundo que aplaude o resultado — o projeto impecável, a campanha viral, a ideia genial. Mas ninguém mostra o que veio antes: os medos, a vulnerabilidade, a sensação de que ninguém vai se interessar pelo que você sente.
E talvez — só talvez — o que você sente, justamente por ser só seu, seja o que mais pode tocar outra pessoa.
Então, se você anda buscando uma boa ideia… talvez a pergunta certa não seja “o que eu quero mostrar?” — mas sim “o que eu tô tentando esconder?”
Muito além da xepa
→ esse espaço é pra compartilhar coisas incríveis que me inspiraram e que, com certeza, vão te inspirar também.
Já que falei dele hoje, minha indicação é o doc “Por Dentro da Pixar”, disponível no Disney+. São episódios curtinhos que mostram os bastidores do estúdio, de um jeito bem humano — com histórias pessoais dos diretores, animadores e roteiristas.
Se você ama narrativas bem contadas (ou tá precisando se reconectar com a sua própria criatividade), assiste! É um baita sopro de inspiração.
Um beijo e até a próxima feira!
Carol da Maria Marcolina